Uma metáfora para o sintoma
Você já reparou como somos, desde cedo, "invadidos" pela linguagem?
De acordo com a psicanálise, o desenvolvimento de sintomas - físicos e psíquicos - é uma das consequências da incidência da palavra sobre o corpo. Fazer sintoma, assim, é uma das formas (inconscientes) que temos para lidar com essas marcas que a linguagem deixa em nós, desde crianças. Vale lembrar que a linguagem engloba os números, as palavras, os sons... E há também nossos traumas, que não são linguagem, mas se associam a ela, causando-nos devastação.
O sintoma é uma maneira que encontramos, inconscientemente, de nos "proteger" da intensa tempestade de linguagem em que vivemos, e também dos inevitáveis traumas que experimentamos ao longo da vida. Como um guarda-chuva resguarda-nos da tormenta, impedindo que nos molhemos, o sintoma poupa-nos de sofrer mais do que poderíamos aguentar, caso não fizéssemos sintoma. Nesse sentido, um sintoma é mais um aliado do corpo do que um inimigo. Conforme Freud, um sintoma é uma solução muito singular que cada sujeito encontra de fazer frente a seu excesso de angústia (como um escudo).
Aqui está uma ilustração-poema, chamada Irradiante, que transforma esse pedaço de teoria psicanalítica em imagem:
O sintoma é o guarda-chuva que nos protege contra a tempestade de linguagem e os raios dolorosos do trauma.
Fazer análise é uma boa maneira de lidar com as marcas que essa chuva, que esses raios deixam em nós.
Ouvimos frases que nos magoam.
Vivemos experiências que nos machucam.
Mas a ferida deixada pela linguagem não precisa arder para sempre.
Nem aquela deixada pela vida.
A tormenta, a tempestade um dia pode deixar de doer!
É nisso que a psicanálise aposta :)