casca
a dor de trocar de pele
não é aguda nem ardida
só é triste
e sem volta
como aqueles caminhos sem lua
dos quais falava Mario Quintana
superar uma dor é sofrer
por ela não mais existir.
começar a viver é morrer:
ao invés de chorar, ter que rir…
despedir-se aos poucos da dor
-despachá-la, mandar-lhe partir -
é ver a si mesmo na estrada
impotente, vendo-se ir!
esta dor não era minha:
esta dor era eu próprio!
como, agora, dar-me um nome
dar-me um novo nome próprio?…
(tens certeza que tu querias
que tua dor fosse embora assim?
pensa bem, pois o enredo
de tua novela está perto do fim!)
não há mais vilões nem mocinhos,
só existem os meus caminhos…
não há mais tragédia ou fortuna,
toda maré parece oportuna…
e eu não sei até quando,
não sei mesmo nem por quê,
só sei que recebo da vida
um convite para viver.
(Clara Cruz)